Que tal um sorvete de espaguete ou sabor smurf?

Quando o assunto é comida, sou um pouco conservadora quanto aos sabores. Sabe quando alguém diz que pizza com abacaxi em calda é uma delícia? Ou que você tem que experimentar pizza de estrogonofe? Ai… Não rola, eu gosto mesmo é de pizza marguerita, napolitana. E quando o assunto é sorvete,  nada como um bom chocolate meio-amargo, pistache, baunilha ou os soberts de frutas.

Há muitas invencionices, especialmente, para crianças. E se no Brasil, toda criança (toda eu não sei, mas…) gosta de Banana Slipt, aqui na Alemanha o top da infância é o tal do Spaghetti Eis ou o Smurf Eis. Desde que me deparei com aquele sorvete da cor dos smurfs, torci o nariz. ‘Tá aí uma coisa que não faço a menor questão de provar’, pensei logo. E quando perguntei para os amigos alemães que sabor tem aquela  “massa azul muito louca”, ninguém soube me responder precisamente.

Mas num desses dias quentes de verão (que está acabando – tristeza!), resolvi – influenciada pelo namorado alemão – dividir o tal do Spaghetti Eis.

Eu e o sorvete de espaguete!

A prova que eu experimentei o sorvete de espaguete!

Como fazer ou o que é um sorvete de espaguete?

É bem simples. Num pote médio coloca-se um boa dose de chantilly, duas bolas de sorvete de baunilha (que devem passar por aquele ‘treco’ de fazer purê de batata para ficarem no formato do espaguete), o molho de tomate é na verdade uma calda de morango ou framboesa e, por último,  se polvilha o queijo ralado, no caso, coco ralado ou raspinha de chocolate branco.

Então, provei e não achei a última maravilha da revolução dos gelatos, mas enfim… é gostosinho. Ainda sou muito mais a nossa infância sabor ‘Banana Split’ com bolas de chocolate, crocante e creme! Mas experimentei também um pouquinho do gosto de ser criança na Alemanha.

Quanto ao sorvete Smurf: não, obrigada! Mas falando nisso…

Vai um sorvetinho azul smurf?

Vai um sorvetinho azul smurf?

Eu quase sempre tomo sorvete num gelateria italiana perto da minha casa. Eu e o namô estávamos pagando o nosso sorvete quando chegou uma mãe com o filho, que me pareceu ter uns 6 anos de idade. E eu com meu ‘baby german’ entendi a conversa do menino com o dono siciliano (eu sei porque já conversei com ele algumas vezes em italiano) e seu humor. Deu-se assim:

O senhor não tem sorvete Smurf hoje?

Hoje não. Nem amanhã. E nem nunca!

O garotinho não entendeu bem, a mãe fez uma cara meio feia, eu olhei pro namô e sai rachando de rir, ele comentou: ‘um alemão jamais responderia isso’ e eu respondi: ‘por isso eu adoro o humor ácido italiano’! ahahaha

Citação

Para ler sempre que precisar…

“Sou composta por urgências
minhas alegrias são intensas
minhas tristezas, absolutas. 
Me entupo de ausências, 
me esvazio de excessos.
Eu não caibo no estreito, 
eu só vivo nos extremos. 
Eu caminho, desequilibrada, 
em cima de uma linha tênue 
entre a lucidez e a loucura. 
De ter amigos eu gosto 
porque preciso de ajuda pra sentir, 
embora quem se relacione comigo 
saiba que é por conta-própria e auto-risco. 
O que tenho de mais obscuro, 
é o que me ilumina. 
E a minha lucidez é que é perigosa … 
Se eu pudesse me resumir, 
diria que sou irremediável!”

Clarice Lispector

Patti Smith e o mantra da criação

Fotografada por Robert Mapplethorpe (1975)

“O artista busca entrar em contato com sua noção intuitiva dos deuses, mas, para criar seu trabalho, não pode permanecer nesse domínio sedutor e incorpóreo. Ele deve voltar ao mundo material para fazer sua obra.  A responsabilidade do artista é equilibrar a comunhão mística com o trabalho criativo.

Deixei para trás Mefistófeles, os anjos e os restos de nosso mundo artesanal, dizendo: “Eu escolho a Terra”.

Só Garotos (234), Patti Smith. (Companhia das Letras, 2010)

O Soneto Preferido

Como imperfeito ator que em meio à cena
O seu papel na indecisão recita,
Ou como o ser violento em fúria plena
A que o excesso de forças debilita;
Também eu, sem confiança em mim, me esqueço
No amor de os ritos próprios recitar,
E na força com que amo me enfraqueço
Rendido ao peso do poder de amar.
Oh! sejam pois meus livros a eloquência,
Áugures mudos do expressivo peito,
Que amor implorem, peçam recompensa,
Mais do que a voz que muito mais tem feito.
Saibas ler o que o mudo amor escreve,
Que o fino amor ouvir com os olhos deve.

William Shakespeare (tradução Ivo Barroso)

Verbo caber

Entre o queixo e canela dele, eu me encaixo.
Deitada extamente em cima do seu corpo. Braços e pernas esticados.
O peito-travesseiro macio é apoio perfeito das ideias,
Me afundo. Afundo. Afundo.
Seu cheiro, suor, pêlos.
As nossas mãos não se encontram,
Com as pontas dos dedos toco seu pulso, sua respiração.
Dormir e acordar assim. No seu coração, eu caibo?
Não perguntei nada.
Preciso aprender a perguntar.

Até que…

Roma. Caos. Barulho. Transito. Frio. Chuva. Chuva todos os dias por duas semanas. E eis que então, meio sem vontade olhei para fora da janela, quase sem esperanças. Justo eu que não sou tão apaixonada pelo calor. Vi, vi e sorri.

No jardim, só eu e os gatos. Gastei, usei e usufrui de quase uma hora ali, imóvel, num oásis protegido pelo silêncio: tomando banho de sol. Prazer absoluto. Um dos meus cantinhos preferidos na minha nova casa, no qual sempre que não chove, sento para escrever.

Piacere il giardino di Ana. Bello, bellissimo.

…escrevo…

“É que por enquanto a metarmofose de mim em mim mesma não faz sentido. É uma metamorfose em que eu perco tudo o que tinha, e o que sou. E agora o que sou? Sou: estar de pé diante de um susto. Sou: o que vi. Não entendo e tenho medo …de entender, o material do mundo me assusta, com seus planetas e baratas”.

Clarice Lispector

 

Clarice Lispector por Claudia Andujar - a belíssima imagem compõe a capa da biografia Clarice, de Benjamin Moser.

Me paraliso diante de tudo ao encontrá-la, sempre justa em suas palavras, desveladora e desconcertante. E todo dia ao redescobrí-la, enxergo uma parte de mim. Me incomodo, me alegro, me vivo, mas verdadeiramente não sei muito bem o que fazer com isso.

Um grande amor da minha vida e amigo, a Janga, me escreveu uma linda carta. Nela, desejava que eu me perdesse muito para que pudesse, então, encontrar aquilo que busco. Ainda não sei a razão da busca, talvez a descubra daqui a muito tempo, e há sempre a possibilidade, ou nunca a desvende.

Alterno entre as euforias do encontro com o novo e a angústia de viver em uma comédia de erros. Sonho em línguas que desconheço e digo palavras que não sei ao certo se me pertencem.

Hoje, mais do que nunca e todas as vezes, o sentido de escrever se completa em mim, em suas palavras:

“Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida”.

C.L.

Respiro fundo e parto. A vida, me espera.

Saudades têm gosto, cheiro, som e cor

Depois de uns tempos meio enlouquecida e cheio de incertezas, resolvi finalmente concretizar alguns desejos: o primeiro foi estrear definitivamente esse blogue, um projeto pra lá de velho, tanto tempo injustamente abandonado, e que habita meus pensamentos desde a decisão de  “tirar um ano sabático”.

Uma das minhas inspirações para sentar a bunda na cadeira e fazer os dedinhos trabalharem foi uma amiga querida, a Lygia Roncel e seu 12ª dimensão. Além de ter me escrito um texto lindo, ainda mandou um e-mail esses dias com o título que robei para parir meu primeiro texto, sempre que a leio e outros amigos que escrevem contando e pedindo novidades, penso: ‘por quê não paro de enrolar e começo a escrever’?

A segunda razão, estou fora do Brasil ou São Paulo, como preferir, desde 13 de abril deste ano. De lá para cá, vivi algumas aventuras bem divertidas e estranhas também. Passando por Portugal (Lisboa e Sintra), França (Paris e Cannes) e Itália (Bologna, Reggio Emilia, Veneza, Pisa, Lucca, Florença e Roma).  Vim para aprender italiano e entender a maluquice dos italianos, mas depois  da quarta vez em Roma, em poucos mais de dois meses, saquei que é aqui que quero ficar a maior parte do meu ano fora do Brasil.

Mas esse post é dedicado a um dos grandes prazeres da vida, do qual os italianos partilham seu amor e sua pancia (pança): COMER! Papo de gorda total, eu sei, mas faz parte da vida… Também para comemorar minha nova casa: um apê lindinho no Trastevere, que divido com uma amiga francesa, Anne-Laure, a conheci na escola de italiano.

Anahí e Ana se jogando na comida brasileira

Sem mais enrolações, vamos ao menu do dia:

Salada de alface, rúcula, cenoura, tomate cereja e presciutto crudo é bem a comida de todo o dia na Itália, ainda mais no verão abafado de Roma. E eu não seria idiota em dizer que a comida na Itália não é boa, o que 4 kg ganhados sem orgulho, desmentiriam em um segundo, mas cansa comer tanta pasta, pizza e pão. Faz meses que sonhava com um prato lindo de arroz, feijão e ovo frito. Parece banal, mas quando se está fora de casa, não é.
Na Itália não tem o nosso feijão, mas como eles comem pasta & fagioli (bem parecido com a nossa sopa de feijão com macarrão, mas sem as batatinhas, cenourinhas e vagem), tem um feijão enlatado e se você se der ao trabalho de procurar acha um tipo mais marronzinho… Então lá fui eu ao mercado no domingo porque estava pazza (louca) de vontade de comer arroz, feijão e ovo frito! ahahhahaha Para minha aventura culinária convidei a Anahí, amiga brasileira que mora em Roma a três anos porque queria dividir minha alegria com alguém que entendesse o verdadeiro “valor” de uma comidinha caseira.

Regadas a cerveja italiana, Peroni, e música brasileira: Elza Soares e Cartola, nos jogamos num pratão!!!! =) Celebramos a comida, as saudades e agradecemos à belíssima Lua Cheia do céu de verão.

Bacio. Ti sentiamo più tarde!